quarta-feira, 4 de março de 2015

O Homem Nu Do Evangelho de Marcos

Wilma Rejane O Evangelho de Marcos relata com exclusividade um fato curioso ocorrido na prisão de Jesus, quando Satanás enfurecido possui Judas: “Entrou, porém, Satanás em Judas, que tinha por nome Iscariotes, o qual era do número dos doze". Lc 22:3. Judas então reúne para si grande número de pessoas armadas e se dirige para o Getsêmani. Entre os que estão sendo conduzidos por Satanás: “os principais dos sacerdotes, escribas e anciãos” Mc 14: 43. A composição dessa turba é assustadora! Trazendo esse episódio para os dias atuais, seria como se os mais nobres representantes da igreja estivessem entre os que perseguiram e traíram Jesus. Creio, porém que existe hoje um remanescente de ministros sinceros, que amam verdadeiramente a Jesus e se negariam a fazer parte do exército endiabrado. Voltando ao fato curioso, e que sempre me chamou muito atenção é o de que naquele dia obscuro da prisão de Jesus, onde os maus zombaram dos bons, havia entre os discípulos um jovem envolto a um lençol. Diz a Palavra: “E certo jovem o seguia, envolto em um lençol sobre o corpo nu. E lançaram-lhe a mão. Mas ele, largando o lençol fugiu nu” Mc 14:51, 52. A primeira pergunta que me vem à mente é: Quem era esse jovem? A tradição o identifica como o próprio Marcos, discípulo e escritor do Evangelho de mesmo nome. Tudo porque acreditam que a última ceia ocorreu na casa dele no que discordo total e absolutamente. É só fazer uma leitura cuidadosa sobre o episódio da santa ceia para descobrir que a casa onde os doze se reuniram com Jesus, não era a de Marcos. Estou desmentindo uma tradição secular, não sei, porém, como ela se firmou. Vejamos: E, no primeiro dia dos pães ázimos, quando sacrificavam a páscoa, disseram-lhe os discípulos: Aonde queres que vamos para os preparativos da páscoa? E enviou dois dos seus discípulos, e disse-lhes: Ide à cidade, e um homem que leva um cântaro de água, vos encontrará: segui-o. E onde quer que entrar, dizei ao senhor da casa: O Mestre diz: onde está o aposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos? E ele vos mostrará um grande cenáculo e preparado, prepara-a ali. Mc 14: 12,15. Se a ceia ocorreu na casa de Marcos, Jesus e os discípulos não saberiam onde ficava? Por que pedir direção ao homem com o cântaro? Sendo o local da ceia já preparado com antecedência por Jesus, como Marcos não o saberia? Ele não veria Jesus a entrar e sair do aposento? Para mim está claro que a ceia não foi na casa de Marcos e que o atual local em Jerusalém, chamado de Igreja de São Marcos Síria Ortodoxa, erra ao apontar o lugar- centro de peregrinação- como sendo o da realização da última ceia. Lá existe até uma inscrição em pedra afirmado ter sido ali o último local onde Jesus se reuniu com os discípulos. É engano. O Homem Nu Não poderia ser Marcos. Por que, estando em sua casa, ceiando com Jesus, vestiria um lençol? Se a ceia realmente tivesse sido na casa dele, este seria mais um forte motivo para que o homem nu não fosse identificado como Marcos. Ele teria condição suficiente para escolher uma roupa adequada para a ceia, até mais que os outros discípulos. Um Lençol... O que me intrigou nessa passagem, além da identidade do homem nu, foi o porquê de suas vestes. Seria alguém sem posses? Tão pobre a ponto de cobrir-se de forma imprópria? O lençol teria sido doado? Seria ele um mendigo? Esse fato trouxe-me muitas interrogações e também muitas respostas. A fuga dos Discípulos “Então deixando-os todos fugiram” Mc 14:50. No momento da prisão de Jesus, a multidão ataca seus discípulos, com espadas, paus e palavras de ordem. Eles fogem, em demonstração de covardia. Não foram capazes de suportar o jugo e permanecerem ao lado do mestre até a crucificação. Costumamos criticar os fujões, mas será que agiríamos diferente?! Naquele instante o ato não foi louvável, porém a sobrevivência deles garantiu posteriormente a propagação do Evangelho e da Igreja. Quem era o homem? A Escritura dá a entender que ele resistiu às agressões, mas fugiu em seguida:“E certo jovem o seguia, envolto a um lençol, sobre o corpo nu. E lançaram-lhe a mão, mas ele, largando o lençol fugiu nu” Mc 14:51, 52 Este homem tinha a Jesus como o bem mais precioso, para ele, não importava se iriam zombar ou achá-lo ridículo, o mais importante era seguir o Mestre. Imagino que o agarravam pelo lençol e ele se esquivava até enfim abandonar a veste em semelhança a ação de José do Egito fugindo da esposa de Potifar. E pensar que sua veste era de valor tão insignificante para a multidão, mas tão valiosa para ele. Quem sabe, o único bem. O homem nu do Evangelho de Marcos me deixa a lição de que ao olhar para Jesus e segui-Lo estou livre da vergonha. Já não é de veste humana que se faz o meu ser, mas da espiritual, dessa aprouve a Deus nos cobrir. No livro de Josué lê-se: “Hoje revolvi de sobre vós o opróbrio do Egito” Js 5:9, ou seja: revolvi a escravidão, a vergonha. O homem nu, não se sentiu constrangido a seguir Jesus envolto a um lençol, porque seu espírito estava coberto de uma veste excelente, sua vergonha não era a de ser pobre e solitário, mas consistia em ter sido miserávelmente pecador. Antes nu, agora vestido, mesmo nu. “Eis que venho como ladrão. Bem aventurado aquele que vigia e guarda suas vestes, para que não ande nu, e não se vejam suas vergonhas” AP 16: 15. Imagino os sacerdotes, vestidos de linho, adornados com ouro, cercando o homem vestido com um lençol. Aqueles pobres, cegos e nus, enquanto este, vestido esplendorosamente. O homem nu representa também os santos que perseguidos por aflições tantas, por armadilhas do mal, se vêem tentados a largarem as vestes espirituais, abandonarem Jesus Cristo e prosseguirem nus no mundo, aprisionados pela turba. O homem nu, do Evangelho de Marcos me reporta aos perseverantes, aqueles que estão na contra mão da multidão: Pensam e agem diferente, porque servem a um Deus excelente. Que esse homem, sem nome nos ensine a persistir em seguir Jesus com simplicidade e amor, com afeto pelo Reino e desprezo pelo pecado.